sexta-feira, 16 de abril de 2021

Como Londres criou seus parques e jardins



Para os moradores da cidade que não podem ir ao campo, a solução é trazer o campo para a cidade. Ainda no século I DC, o poeta romano Martial cunhou a frase rus in urbe (campo dentro da cidade) ao se referir à “villa” (semelhante a um sítio) de seu amigo Sparsus em Roma. O poeta admirava e invejava o isolamento da propriedade em relação à agitação constante da vida urbana.

À medida que as populações da cidade aumentaram, também cresceu a necessidade de "campo na cidade" e seus benefícios. Em diversas épocas, a ideia de "idílio campestre" reaparecia, como no panfleto "Fumifugium" (1661), do escritor inglês John Evelyn, que propôs plantações cercadas de "arbustos, árvores e flores perfumadas", que trariam "saúde, lucro e beleza" para neutralizar a poluição do ar em Londres. No final do século XVIII, o político William Pitt descreveu os parques, então em risco de serem desapropriados por construções imobiliárias, como "os pulmões de Londres".

Londres se tornou a maior cidade do mundo no início do século XIX, com a o aumento da população de 864 mil para 4,5 milhões de pessoas. O crescimento foi tão rápido e a cidade tornou-se tão densamente povoada, que os cidadãos comuns não tinham acesso a espaços abertos ou ar puro. As epidemias de cólera e febre tifóide na década de 1830 levaram a grandes mudanças na infraestrutura e no planejamento da cidade.

Parques e playgrounds foram considerados a solução para superlotação, pobreza e problemas de saúde. Entretanto, como criar áreas verdes em uma cidade densamente urbanizada, sem espaços vazios?

As soluções foram criar novos parques públicos no que eram, então, os limites de Londres, e reaproveitar os cemitérios desocupados do centro da cidade (fechados após os Atos de Enterro da década de 1850) para fazer jardins.

O Parque Finsbury de Londres foi proposto como um parque "fora da cidade" pela primeira vez em 1850 e projetado em 1866 como o segundo parque público da cidade (o primeiro, Parque Victoria em Hackney, foi estabelecido em 1842 por recomendação do epidemiologista William Farr). Entretanto, o Parque Finsbury estava a uma distância de mais de 5,5 quilômetros do centro de Londres e não era acessível facilmente durante a semana.

Parque Finsbury em Londres (foto de 2021)
A desocupação de cemitérios foi proposta pela primeira vez pelo sanitarista Edwin Chadwick em 1843 e na década de 1870, sete cemitérios menores no centro da cidade foram convertidos em jardins públicos, incluindo os cemitérios Saint George's Gardens, Bloomsbury e St Pancras Old Church.

Legislações específicas de 1877 e de 1881 e a fundação da Metropolitan Gardens Association em 1882 incentivaram a construção de outros jardins públicos no centro de Londres.

Esses espaços já eram populares na época: uma pesquisa de 1884 mostram que em média de 2.839 crianças frequentavam todos os dias o playground da antiga Horsemonger Lane Gaol, em Southwark, naquele ano.

Nova época, demandas semelhantes

Hoje em dia, a pandemia de covid ressalta cada vez mais a necessidade de espaços abertos e ar puro. Um projeto em desenvolvimento em Londres é o Parque Camden Highline, um parque suspenso como o Parque High Line em Nova York (visitado, fotografado e resenhado pelos site Áreas Verdes das Cidades) e o London Olympic Park, ambos do paisagista holandês Piet Oudolf.
Área do Parque Camden Highline
Os vencedores do concurso de projetos para o Parque Camden Highline são uma equipe multidisciplinar liderada pelos paisagistas da James Corner Field Operations. A passarela de 1,1 km conectará o bairro Camden a King's Cross (centro de Londres) ao longo de uma linha ferroviária desativada, com cafés e áreas de convivência ao longo do caminho. 

Este projeto e o proposto para a Peckham Coal Line (outra ferrovia desativada) poderiam fornecer a Londres novas opções de áreas verdes. Entre outras soluções, a cidade também poderia transformar em parques lineares as margens de canais, reservatórios e rios. Alguns empreendimentos imobiliários comerciais também podem reservar parte de seus terrenos para áreas verdes em benefício da comunidade.


Foto James Burns (1ª foto) e Apollo Magazine

2 comentários:

  1. Perfeitamente pertinente para
    Exemplo das Megalopoles.O Verde é saude e felicidade.

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